terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A EDUCAÇÃO E A CRÍTICA AO HUMANISMO



A perspectiva humanista, uma característica da modernidade, coloca no centro a espécie humana, seus direitos, suas demandas e desejos. A visão humanista reflete uma perspectiva do ser humano como o ápice da evolução e os considera centrais para o drama cósmico. Algumas tradições religiosas colocaram o ser humano como o coroamento da criação, com mandato para dominá-la. O enfoque antropocêntrico coloca a natureza e o planeta como pano de fundo para atender às demandas humanas e como fonte de recursos para serem usados pelos seres humanos.

A perspectiva humanista tem sido crescentemente questionada, diante da constatação de que nossa espécie se tornou grande fator de pressão sobre a natureza e da devastação que produz ao dizimar habitats, mudar o clima e provocar a extinção de espécies. 

O historiador da cultura Thomas Berry apontou as deficiências das tradições humanistas alienantes: “Tanto nossas tradições religiosas como humanistas são primordialmente comprometidas com uma exaltação antropocêntrica do humano. ” [1] Ele considera que, na história da Terra, o momento atual é equivalente, em termos de profundidade de transformações, às que ocorreram há 67 milhões de anos, quando o planeta passou por uma grande extinção e por mudanças climáticas que dizimaram os dinossauros. Uma diferença é que, na situação atual, a espécie humana é quem agrava as catástrofes e a tragédia ambiental.
James Lovelock, autor da teoria de Gaia, é outro crítico da visão humanista e social, que levou a sobre explorar o planeta e a precipitar a atual crise ecológica e climática. Considera que “A humanidade, totalmente despreparada por suas tradições humanistas, enfrenta seu maior teste”. [2] Lovelock propõe que se desloque o foco para o bem-estar e a saúde do planeta, Gaia, tendo em vista que sua existência saudável é precondição para a vida humana e de todas as outras espécies. Outros propõem uma visão ecocêntrica, biocêntrica.
A ecologia profunda rejeita o humanismo. Atribui os problemas ambientais ao antropocentrismo, que procura preservar recursos para o uso do homem e não pelo valor intrínseco da natureza. Nesse sentido coloca-se o MAUSS - o movimento antiutilitarista nas ciências sociais – que questiona a abordagem de colocar a natureza a serviço do ser humano, subestimando o valor dos serviços ambientais, tais como a regulação do clima, a produção de água e outros processos fundamentais para sustentar a vida.

As respostas para a crise ecológica atual devem estar à altura das dimensões épicas das transformações. Isso inclui uma mudança de perspectiva semelhante àquela adotada por Copérnico, que demonstrou que o sol, e não a terra era o centro do sistema. Galileu sofreu por demonstrar essa realidade. (Posteriormente constatou-se que somos ainda mais periféricos do que eles imaginavam, pois o sol é apenas uma es
trela de 5ª grandeza situada na periferia de uma das milhões de galáxias no universo).
Migrar de um ângulo de visão antropocêntrico e humanista para uma perspectiva Gaiacêntrica demanda semelhante humildade e desprendimento. O homo sapiens não é o fim da evolução, mas é um ser em transição, como propõe Sri Aurobindo. Esse ser poderá ser sucedido na evolução por um ser trans-humano, póshumano ou, numa perspectiva ecológica, ecohumano.
Para superar a crise ecológica e da evolução, cabe uma perspectiva pós-antropocêntrica. Nessa era, o ser humano deixa de ser uma presença disruptiva e devastadora, vindo a ser uma presença benigna diante do mundo natural, como propõe Thomas Berry. Esse ser humano ecologizado pode tornar-se gestor da evolução de forma menos destrutiva do que a que vivenciamos.
Nesse contexto, cabe desaprender conceitos e visões de mundo. Cabe à educação transcender a perspectiva humanista e adotar princípios e conteúdos que facilitem a transição para a era noológica da evolução do planeta.



[1] Berry, Thomas, The Great Work, pg 104.
[2] Lovelock, James, A vingança de Gaia.

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