sexta-feira, 7 de abril de 2017

Água e floresta: o colapso na ilha de Páscoa





                      Maurício Andrés Ribeiro

Várias sociedades colapsaram ao não se relacionarem harmonicamente com a vegetação e com a água. Jared Diamond, em seu livro Colapso, estuda várias ilhas: o Japão, Dominica, a ilha onde se situam Haiti e Republica Dominicana, Tikopia,  a ilha de Páscoa. Esta última era um ecossistema frágil coberto por palmeiras gigantes e habitado desde o século VIII. Ele pergunta: como pôde aquela sociedade tomar uma decisão desastrosamente tão óbvia, a de cortar todas as árvores das quais dependia?
Entre 1200 e 1500 d.C. os chefes tribais competiam para construir a maior estátua de pedra (moai) para agradar aos deuses e para seu  próprio status. Disso resultou a sobre-exploração dos recursos e o desflorestamento da ilha, pois as palmeiras altas lá existentes eram usadas para produzir cordas grossas feitas de casca fibrosa de árvores, alavancas e demais apetrechos necessários para esculpir, transportar e erigir as estátuas. Resultaram disso a eliminação da fauna e dos cursos d’água, a perda das condições de abastecimento alimentar e da capacidade de suporte do ambiente, com a fome, a consequente eclosão de conflitos violentos, instabilidade política e canibalização entre os grupos. A ilha de Páscoa entrou em colapso por causa da associação entre fragilidade ambiental e impossibilidade de emigrar, devido à localização distante, combinada com fatores humanos: poder, competição entre clãs e chefes que sucumbiram a seus interesses e percepções imediatos e levaram à construção de estátuas maiores, requerendo mais madeira, cordas e alimentos. Houve falta de sensibilidade e percepção sobre a importância das florestas. No século XVIII, quando ali chegaram os navegadores espanhóis,  a ilha tinha poucas árvores, poucos habitantes e mais de 880 moais, as estátuas gigantescas de pedra. 
Jared Diamond pergunta por que algumas sociedades demonstram tal estupidez autodestrutiva. Ele ensaia algumas respostas: quando a situação é nova e faltam experiências prévias, elas não percebem e falham ao tentar resolver os problemas. Nas sociedades que colapsam, aqueles que cometem atos destruidores são altamente motivados pela perspectiva de ter prestígio e status; também são motivados pela ganância de terem lucros imediatos, enquanto as perdas recaem sobre grande número de indivíduos. Ao apontar a crença equivocada de que a elite pode manter-se imune aos problemas da sociedade no entorno, ele adverte que os ricos não asseguram seu próprio interesse e os de seus filhos se governam uma sociedade em colapso; eles simplesmente compram, para si próprios, o privilégio de serem os últimos a passar fome e morrer. Quando as elites tendem a defender o interesse próprio, provocando o mal para os outros, atuam de modo racionalmente correto, mas moralmente repreensível.
Ele aponta dois principais caminhos para terem sucesso: de cima para baixo (o caminho dos xoguns japoneses), com planejamento de longo prazo e vontade de reconsiderar valores dominantes. O caminho de baixo para cima, a partir de ações locais, superando as falhas de percepção que ocorrem quando os governantes estão distantes; é relevante que as elites não se isolem das consequências de suas ações, tal como fazem os holandeses, pois se um dique romper, todos podem se afogar. É fundamental a audácia, a coragem para olhar os problemas no longo prazo e agir de modo antecipatório, antes que haja a crise. Finalmente, quando os tempos mudam, a sociedade deve saber a quais valores se apegar e quais deve descartar e substituir por novos valores.

  









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